Todo profissional de supply chain sabe a importância de ter uma cadeia de suprimentos confiável. E principalmente neste ano atípico que estamos vivendo, com uma crise sem precedentes, a lição que fica é que precisamos estar bem preparados. Então, vale a reflexão: sua cadeia de suprimentos deve ser robusta ou resiliente?
Primeiramente, vamos pontuar as diferenças entre ambos adjetivos. Enquanto robustez significa resistente, forte, com vigor; resiliência é sinônimo de elasticidade, adaptação, superação. Ambas características importantes. Em recente artigo veiculado no Financial Times sobre “A perigosa guerra das supply chains”[1], essa questão é levantada e o autor defende que durante uma crise a robustez é mais importante para uma supply chain, para garantir o acesso aos suprimentos essenciais. Você concorda?
O ser humano é por natureza criativo e inovador, e sabemos por experiência própria que é enfrentando problemas e situações difíceis que encontramos novas soluções. Ainda mais, no Brasil temos arraigada a cultura do “jeitinho”, que é nossa capacidade quase que automática de buscar uma solução simples para alguma situação indesejada ou imprevista, que se bem utilizada resulta em processos flexíveis, soluções criativas e inteligentes, adaptações rápidas... Ou seja, somos resilientes. E provamos isso na crise, com muitas empresas mudando a estratégia do negócio, e profissionais buscando capacitação e se superando frente às adversidades. Longe de ser fácil, mas somos persistentes.
Em uma estratégia de abastecimento devem ser estabelecidas diferentes ações para diferentes grupos de suprimentos, de acordo com o panorama do mercado fornecedor, os riscos de desabastecimento, as capacidades envolvidas e confiabilidades, a relevância estratégica de cada item no negócio, entre outras considerações a analisar. De forma similar, as necessidades de maior robustez ou maior resiliência são variáveis de acordo com esta estratégia, fazendo com que a cadeia possa abrigar as duas características e orientar sua gestão de riscos de acordo.
Onde há maior risco, e consequentemente maior impacto no negócio, deve haver mais robustez.
Este balanço é importante, pois dependemos de resistência e de flexibilidade para evoluir. Uma cadeia muito resiliente pode perder o timing do mercado ao precisar de muitas adaptações, e em momentos de crise como a pandemia não conseguir a prioridade e prontidão necessárias. Por outro lado, uma cadeia totalmente robusta pode ser rígida demais no negócio, além de provavelmente não ser viável financeiramente: garantias e alta confiabilidade custam caro. É como no dilema sobre previsibilidade e inovação, bem explorado neste artigo do Fisher publicado pela Harvard Business Review[2], no qual ele ressalta como as características de seu produto devem refletir no planejamento da supply chain do negócio.
Produtos funcionais, que atendem requisitos básicos do consumo, têm demanda previsível e alta competitividade no mercado, trazendo consequentemente margens baixas em sua cadeia. Como contrapartida temos produtos inovadores, capazes de suportar margens mais altas porém com uma imprevisibilidade muito maior, acompanhada por maiores riscos. Fisher ainda ressalta que qualquer produto pode ter enfoque funcional ou inovador, de computadores a sorvetes, fazendo que muitas vezes as empresas tenham dificuldades em definir sua estratégia com clareza.
Cadeias robustas possuem processos eficientes; cadeias resilientes, processos responsivos.
Utilizar uma metodologia e ter ferramentas que apoiam na tomada de decisão conforme sua estratégia fazem com que a definição dos seus fornecedores esteja alinhada com os objetivos do negócio, reduzindo riscos. Sua cadeia de suprimentos pode abrigar mais de uma estratégia e ser robusta e resiliente, desde que os parâmetros de quais produtos e processos devem buscar maior eficiência e quais devem ter maior responsividade estejam bem definidos. Fazendo uma analogia com uma estrela, seu centro é denso porém seus raios são mais dispersos. O núcleo do seu negócio deve ser robusto e eficiente, enquanto os processos de apoio devem ser flexíveis e permitir mudanças rápidas para adequação da melhor estratégia para cada momento.
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Referências:
[1] Wolf, M. "The dangerous war on supply chains". Financial Times, 23 de junho de 2020.
[2] Fisher, M. L. "What is the right supply chain for your product". Harvard Business Review, março-abril 1997.
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